Artículo
Demandas e estratégias para o enfrentamento da dependência química reveladas na Terapia Comunitária Integrativa
Demandas y estrategias para el enfrentamiento a la dependencia química reveladas en la terapia comunitaria integradora
Demands and strategies for coping with chemical dependence revealed in Integrative Community Therapy
Alisséia Guimarães Lemes 1*
Vagner Ferreira do Nascimento 2
Rosa Jacinto Volpato 3
Margarita Antonia Villar Luis 4
1 Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT)
2 Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT), Campus Universitário de Tangará da Serra. Tangará da Serra, MT, Brasil.
3Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (EE/USP). São Paulo, SP, Brasil
4 Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (EERP/USP). Ribeirão Preto, SP, Brasil.
* Autora para la correspondencia: alisseia@hotmail.com
RESUMO
Introdução: Este trabalho tem como objetivo avaliar as principais demandas e estratégias reveladas por usuários de substâncias psicoativas durante a execução de um programa de intervenção com a Terapia Comunitária Integrativa.
Método: Trata-se de um estudo documental, retrospectivo e qualitativo, realizado a partir das fichas de apreciação e fechamento das rodas de Terapia Comunitária Integrativa realizadas entre janeiro a maio de 2018, em três instituições de recuperação de dependência química no Vale do Araguaia, Brasil. Utilizou-se a análise de conteúdo, na modalidade temática.
Resultados: As principais demandas se referem ao contexto familiar, sofrimentos e desconfortos. As estratégias mais utilizadas no enfrentamento da dependência química foram: autoestima, manejo de sentimentos negativos, vínculos sociais e religiosidade. Os registros apontaram que a Terapia Comunitária Integrativa possibilitou espaço de escuta, manifestação e partilha de sofrimentos, auxiliando no processo terapêutico e cuidado desses usuários.
Discussão: Os registros permitiram inferir os efeitos benéficos da participação nas rodas de TCI, particularmente no acolhimento das demandas dos participantes, despertando os mecanismos para enfrentar as adversidades, dando-lhes a oportunidade de redimensionar seus conflitos, sofrimentos e emoções.
Palavras-chave: acolhimento; apoio social; participação comunitária; usuários de drogas.
RESUMEN
Introducción: Este trabajo tiene como objetivo evaluar las principales demandas y estrategias reveladas por los usuarios de sustancias psicoactivas durante la ejecución de un programa de intervención con Terapia Comunitaria Integrativa.
Método: Este es un estudio documental, retrospectivo y cualitativo, realizado sobre la base de las formas de evaluación y cierre de las ruedas de la Terapia Comunitaria Integrativa llevadas a cabo entre enero y mayo de 2018, en tres instituciones de recuperación de la dependencia química en el Valle del Araguaia, Brasil. El análisis de contenido se utilizó en la modalidad temática.
Resultados: Las principales demandas se refieren al contexto familiar, sufrimiento e incomodidad. Las estrategias más utilizadas para hacer frente a la dependencia química fueron: autoestima, manejo de sentimientos negativos, vínculos sociales y religiosidad. Los registros señalaron que la Terapia Comunitaria Integrativa permitió un espacio para escuchar, manifestar y compartir el sufrimiento, ayudando en el proceso terapéutico y la atención de estos usuarios.
Discusión: Los registros permitieron inferir los efectos beneficiosos de la participación en las ruedas de TCI, particularmente al acoger las demandas de los participantes, en el despertar de los mecanismos para hacer frente a la adversidad, dándoles la oportunidad de redimensionar sus conflictos, sufrimientos y emociones.
Palabras clave: acogimiento; apoyo social; participación de la comunidad; consumidores de drogas.
ABSTRACT
Introduction: This work has as objective to evaluate the main demands and strategies revealed by users of psychoactive substances during the execution of an intervention program with Integrative Community Therapy.
Method: This is a documentary study, retrospective and qualitative, carried out based on the forms of assessment and closure of the Integrative Community Therapy rounds carried out between January and May 2018, in three institutions for recovery of chemical dependency in the Araguaia Valley, Brazil. Content analysis was used in the thematic modality.
Results: The main demands refer to the family context, suffering and discomfort. The most used strategies for coping with chemical dependency were: self-esteem, handling of negative feelings, social bonds and religiosity. The records pointed out that the Integrated Community Therapy allowed space for listening, manifesting and sharing suffering, helping in the therapeutic process and care of these users.
Disscusion: The evidence allowed inferring the beneficial effects of the participation in the Integrated Community Therapy, particularly when collecting the participants' demands, in the awakening of the mechanisms to face adversity, giving them the opportunity to re-dimension their conflicts, sufferings and emotions.
Keywords: user embracement; social support; community participation; drug users.
Recibido: 05/02/20
Aprobado: 20/04/20
INTRODUÇÃO
Atualmente, é necessário sensibilizar os profissionais de saúde sobre o uso de práticas integrativas voltadas ao cuidado das pessoas que usam Substâncias Psicoativas (SPA), o que requer atitudes e ações que lhes permitam ampliar seu conhecimento dos resultados científicos que apontam a efetividade do uso dessas práticas. Despertando assim o interesse na busca da formação necessária e a aplicação dessas novas ferramentas de cuidado no âmbito da saúde.
Com respeito ao uso de SPA, destaca-se que esse consumo em condições abusivas pode levar o indivíduo à condição de dependência. Essa condição exigirá atenção especializado por parte dos serviços de saúde, além de comprometer a condição geral de vida dos usuários. A dependência química tem sido considerada uma doença emergencial do século XXI devido os prejuízos e danos que causa na vida do usuário e seus familiares, sendo também responsável pelo aumento da morbidade e mortalidade.(1) A extensão desses impactos está relacionada com características multifatoriais, que envolvem problemas sociais (nível de desenvolvimento do país, cultura e normas morais, contexto do consumo de SPA, produção, distribuição e regulamentação) e pessoais (idade, sexo/gênero, contexto familiar e situação socioeconômica).(2)
A literatura tem demonstrado que os usuários dependentes têm perdas significativas em várias esferas de sua vida e, que por sua vez, esse consumo abusivo de SPA acaba induzindo o estabelecimento de outros transtornos mentais, aumentando a gravidade dos casos,(3) causando danos em várias esferas da vida, o que compromete a dinâmica familiar que exige um cuidado estendido tanto para os dependente como para seus familiares.
A atenção aos usuários de SPA continua sendo um desafio, especialmente devido as singularidades das pessoas e seus contextos de vida, bem como à falta de preparo ou interesse de profissionais e serviços para acolhimento e o estabelecimento dos melhores recursos terapêuticos para cada indivíduo. Nesse sentido, a Terapia Comunitária Integrativa (TCI), vista como uma tecnologia do cuidado, que compõe a Política Nacional das Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) do Sistema Único de Saúde (SUS),(4,5) se apresenta como importante recurso terapêutico, pois convida os usuários a saírem do individual e alcançar o comunitário na perspectiva da autonomia e co-responsabilidade, para superar suas dependências e/ou necessidades, e ser protagonista do seu próprio tratamento.(6,7)
Por tanto, essa tecnologia pode fazer parte do arsenal terapêutico dos profissionais de saúde no cuidado dos drogaditos,(8) pois além de permitir a participação dos participantes, valorizar as histórias de vida, estabelecer vínculos e criar uma rede de apoio, acolhe as demandas advindas da drogadição e estimula os participantes a desenvolverem estratégias de enfrentamento diante de suas necessidades e sofrimentos.(9)
O uso de práticas integrativas, como a terapia comunitária, pode contribuir para ampliar a assistência de forma complementar, integral, holística e humanizada. Respeitando os direitos do acesso ao cuidado em saúde, não apenas focado ao modelo biomédico, mas sim vinculado a oferta de práticas que respeite a singularidade e necessidade de cada indivíduo. Além disso, discutir sobre o uso de práticas integrativas é necessário para sensibilizar os profissionais de saúde, estimulando o uso de novas tecnologias do cuidado, fornecendo mais autonomia ao profissional e um maior contato com a comunidade, aproximando-o do que é recomendado pelo sistema de saúde brasileiro.
Portanto, o objetivo deste estudo é avaliar as principais demandas e estratégias reveladas por usuários de substâncias psicoativas durante a execução de um programa de intervenção com a Terapia Comunitária Integrativa.
MÉTODOS
Estudo documental e retrospectivo realizado através da análise em fichas de registro de rodas de TCI aplicadas em três instituições para recuperação de dependência química, localizadas na região do Vale do Araguaia, Brasil.
Essa região possui quatro casas terapêuticas (CT) como referência, três para a atenção ao homens e uma, para a atenção feminina. Intencionalmente, escolheu-se somente as instituições masculinas, pois ampliaria o número de participantes com características semelhantes e também porque já são desenvolvidos atividades de extensão universitária nessas instituições. As CT selecionadas são instituições similares em relação à proposta de acompanhamento, de natureza religiosa protestante evangélica, com capacidade para até 30 homens com idade ≥18 anos, em situação de dependência química.
A realização do programa de intervenção com a aplicação de rodas de TCI foi executado em seis semanas consecutivas em cada CT (A, B, C), em momentos (dia e horários) distintos, o que gerou as fichas de registros utilizadas nesta análise temática. O programa foi aplicado dentro de uma pesquisa maior, dividida em três etapas:
Pré-intervenção (orientação aos participantes, assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido - TCLE e coleta de dados).
-
Intervenção (execução das seis rodas de TCI).
-
Pós-intervenção (finalização da pesquisa).
A TCI consiste em uma prática integrativa brasileira, inserida no SUS em 2008 e na PNPIC em 2017,(4) baseada em cinco pilares teóricos: pensamento sistêmico, pedagogia de Paulo Freire, antropologia cultural, teoria da comunicação e resiliência, e segue um protocolo de execução/realização que compreende cinco passos: acolhimento, escolha do tema, contextualização, problematização e encerramento. Sua aplicação ocorre por meio de rodas abertas e públicas.(7)
Três enfermeiros terapeutas comunitários foram os responsáveis por conduzir as rodas de TCI entre os usuários das comunidades terapêuticas. Os dados foram coletados através das anotações realizadas nas fichas de registro das rodas, durante a execução de 18 rodas de TCI (seis em cada CT), no período de janeiro a maio de 2018.
Estes registros das rodas também são denominados Ficha de Apreciação e Fechamento das rodas ou Ficha de organização das informações da roda de TCI, que os terapeutas devem preencher após o término de cada roda. Nessas fichas constam a descrição da apreciação dos participantes, principais temas (demandas) apresentados e escolhidos, mote proposto (pergunta-chave), estratégias sugeridas pelo grupo para tais enfrentamentos e benefícios autorreferidos.(10)
Os critérios de inclusão foram: fichas de rodas de TCI realizadas com usuários de substâncias psicoativas no período de janeiro a maio de 2018 nas CT, que apresentassem os registros completos da apreciação por parte dos terapeutas. Como critério de exclusão estabeleceu as fichas que não foram realizadas com grupos de usuários de substâncias psicoativas.
Foram avaliadas 18 fichas de registro das rodas de TCI pertencentes ao acervo do laboratório de pesquisa Stress, Alcoolismo e Uso de Drogas da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (EERP/USP), Ribeirão Preto, SP, Brasil. Sendo a pesquisa de doutorado A Terapia Comunitária Integrativa como estratégia de intervenção psicossocial para usuários de drogas psicoativas vinculada a este laboratório de pesquisa.
Foram respeitados todos os aspectos éticos em pesquisa com seres humanos de acordo com a Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde (CNS), iniciando a investigação somente após aprovação doComitê de Ética em Pesquisa da EERP-USP, sob CAAE: 68444017.8.0000.5393 e parecer nº 2.487.000.
RESULTADOS
A tabela 1 apresenta informações sobre as 18 rodas de TCI realizadas como processo de intervenção, que deram origem as fichas de registro e análise temática. Quanto a participação dos usuários nas rodas, a faixa etária compreendeu de 19 a 60 anos:
CT A, com sujeitos de 22 a 60 anos.
-
CT B, com indivíduo de 19 a 48 anos.
-
CT C, com participantes entre as idades de 24 a 57 anos.
Já média de participantes foi de 8,83 usuários por roda.
Tabela 1. Número da ficha de registro de informações das rodas de TCI nas comunidades terapêuticas, de acordo com a data, os participantes, a faixa etária e os terapeutas comunitários. Janeiro a Maio de 2018. Região do Vale do Araguaia, Brasil (N=18)
Comunidade Terapêutica |
Nº da ficha de registro |
Nº da roda |
Data |
Participante |
Faixa etária |
Terapeuta comunitário (N) |
CT-A |
01 |
R1 |
24-01-18 |
13 |
22 a 60 |
02 |
02 |
R2 |
31-01-18 |
11 |
22 a 60 |
02 |
|
03 |
R3 |
07-02-18 |
11 |
22 a 60 |
03 |
|
04 |
R4 |
14-02-18 |
11 |
22 a 60 |
02 |
|
05 |
R5 |
21-02-18 |
11 |
22 a 60 |
02 |
|
06 |
R6 |
28-02-18 |
11 |
22 a 60 |
03 |
|
CT-B |
07 |
R1 |
22-03-18 |
07 |
22 a 48 |
02 |
08 |
R2 |
28-03-18 |
06 |
22 a 48 |
02 |
|
09 |
R3 |
04-04-18 |
07 |
19 a 48 |
02 |
|
10 |
R4 |
11-04-18 |
05 |
19 a 47 |
03 |
|
11 |
R5 |
18-04-18 |
06 |
19 a 47 |
02 |
|
12 |
R6 |
25-04-18 |
04 |
19 a 47 |
02 |
|
CT-C |
13 |
R1 |
29-03-18 |
09 |
24 a 57 |
02 |
14 |
R2 |
05-04-18 |
08 |
35 a 57 |
02 |
|
15 |
R3 |
12-04-18 |
09 |
27 a 57 |
02 |
|
16 |
R4 |
19-04-18 |
07 |
27 a 57 |
02 |
|
17 |
R5 |
26-04-18 |
09 |
27 a 57 |
02 |
|
18 |
R6 |
02-05-18 |
06 |
27 a 57 |
03 |
Fuente: Registro de informações das rodas de TCI nas comunidades terapêuticas
Foram seguidas as diretrizes para realização de estudos qualitativos conforme orientação da rede Equator, pelo protocolo internacional Consolidated Criteria For Reporting Qualitative Research (COREQ).(11) Seguindo todos os critérios do protocolo desde a concepção e construção do estudo, e posteriormente houve nova verificação e confirmação do cumprimento dos 32 itens do check list.
Utilizou-se a análise de conteúdo, na modalidade temática, seguindo as fases de pré-análise, exploração do material, tratamento dos dados e interpretação(12) a luz da concepção de Scherer, Pires e Schwartz, que apontam que o trabalho em saúde depende das demandas surgidas e necessidade de resolução.(13) Inicialmente, procedeu-se a leitura de cada ficha de apreciação e fechamento das rodas, agrupando o material de acordo com as principais demandas e estratégias de enfrentamento sugeridas pelos participantes. A partir disso, definiu-se duas categorias temáticas: Demandas reveladas por usuários de substâncias psicoativas na Terapia Comunitária e Estratégias de enfrentamento à dependência química reveladas por usuários de substâncias psicoativas na Terapia Comunitária.
Na primeira categoria, as principais demandas estão relacionadas à vivência existencial dos participantes no cotidiano de recuperação da dependência química.
Essas demandas foram agrupadas e dispostas por meio de uma interface de contextos representativos dos participantes (contexto familiar e sofrimento e desconforto aparente). No contexto familiar, esses elementos voltaram-se para a coletividade (o outro), enquanto que os demais se centralizam no indivíduo (próprio usuário/participante) (Figura 1).
Na figura 1, identifica-se a inseparabilidade das demandas dos participantes diante das dimensões psíquicas que os acompanham durante o processo de recuperação. Para tanto, observa-se que os participantes expressaram principalmente sentimentos e características (culpa, arrependimento, solidão, preocupação) que correspondiam demandas necessárias e que foram abordadas nas rodas de TCI.
Na categoria Estratégias de enfrentamento à dependência química reveladas por usuários de substâncias psicoativas na Terapia Comunitária, as estratégias incluíram aspectos intrapessoais e interpessoais, desejos e expectativas e os meios autorreferidos para alcançar as metas almejadas (Figura 2).
Observa-se que as dimensões (aspectos intrapessoais e interpessoais) refletem as principais características (autoestima, manejo de sentimentos negativos e importância dos vínculos sociais) para motivar o usuário a aderir e manter-se no tratamento. Para tanto, os participantes utilizaram de alguns instrumentos (desejos, expectativas e meios autorreferidos) para se apoiarem e obterem sucesso no cuidado terapêutico (mudança de vida, religiosidade e tratamento recebido).
DISCUSSÃO
Com base nos resultados e nas experiências vivenciadas pelos terapeutas comunitários, sugerimos que cada roda de TCI seja composta de pelo menos cinco usuários e dois terapeutas comunitários para melhor condução e aproveitamento dos assuntos abordados pelos participantes. As demandas apresentadas nas rodas refletiram as necessidades que os participantes enfrentam no cotidiano do processo de reabilitação. E a motivação para partilhá-las coletivamente pode estar relacionada ao espaço terapêutico proporcionado pela TCI e pela necessidade de expressar os sofrimentos individuais que podem auxiliar a redimensionar as perdas causadas pela dependência química, além do reconhecimento do apoio e potencial terapêutico do grupo.
Neste estudo, as principais demandas focalizaram-se principalmente no contexto familiar, mais especificamente quanto a ausência, saudade e necessidade do perdão. Essas demandas apontam para uma fragilidade dos participantes, características que os tornam sensíveis e acessíveis para serem incluídos em práticas de cuidados, em que o envolvimento com pares pode tornar o percurso terapêutico mais compreensível e menos doloroso.
As demandas relacionadas aos problemas familiares similares ao presente estudo também foram encontradas em uma investigação realizada no Nordeste do Brasil entre crianças, adolescentes, mulheres e idosos usuários de um Centro de Atenção Psicosocial (CAPS) que participavam de rodas de TCI; apresentando também demandas relacionadas ao medo, preocupação, insegurança, preconceito, solidão, problemas com a saúde e violência.(14)
O destaque do contexto familiar, deve-se possivelmente à importância que esse ambiente e o convívio social tem na vida das pessoas, como construção da primeira rede social, onde são aprendidos valores e os primeiros exemplos de vida, riscos, proteção e oportunidades. Por outro lado, ao mesmo tempo em que o ambiente familiar oferece oportunidades de crescimento e fortalecimento humano, também há indícios que dificulta a manutenção do ciclo social, antecipando o contato com as substâncias psicoativas. Nos dias atuais questiona-se a família, especialmente os pais, é a melhor prevenção dessas iniquidades.(15)
Sabe-se que a família e o indivíduo estão sempre vulneráveis ao consumo de SPA e, quando esse condição se instala, os impactos são diretos e tem repercussões, como julgamento, preconceito, abandono e marginalidade.(16) No presente estudo, esse cenário também foi retratado pelos participantes, embora tenha percebido a esperança na busca de um novo recomeço no núcleo familiar ou na restauração dos fragmentos, manifestando o desejo de perdão e saudade.
Um estudo apontou que, no processo de reabilitação de usuários de SPA, uma família consciente da dependência química e de seus prejuízos, com laços afetivos e vínculos saudáveis entre seus membros, pode contribuir de maneira benéfica para manter a sobriedade dos familiares.(17)
Em relação as demandas que envolvem o sofrimento e desconforto aparente, a culpa foi o sentimento mais comum entre os participantes das rodas de TCI. E normalmente entre os usuários de SPA. Esse sentimento é decorrente de perdas ocorridas durante os anos de consumo e/ou dependência química, sejam elas perdas familiares, socioemocionais e/ou patrimoniais, que gera um processo de angustia e intenso mal-estar no indivíduo.(16) Esse fato, despertou nos participantes outras demandas, como, arrependimento, preocupação (com saúde) e percepção de sua própria solidão.
Semelhante a esta pesquisa, outro estudo também identificou como desconforto aparente a preocupação com a saúde entre seus participantes, movido pelo arrependimento sobre o estilo de vida adotado durante o abuso de SPA, uma vez que esse uso irrestrito traz consequências irreversíveis, como alterações mentais (alterações de humor, pensamento, etc.) e físicas (HIV/AIDS, Hepatite, etc.),(9) trazendo consequências devastadoras na vida dessas pessoas.
Outro sofrimento que surgiu entre os participantes deste estudo foi a solidão, que pode estar relacionada às perdas que ocorrem durante o processo de dependência química, como morar com seus familiares, quando existem. Um estudo indicou que este sentimento (solidão) pode contribuir para o agravamento do processo de dependência, ao mesmo tempo em que pode levar ao sofrimento e ao isolamento social.(18)
Dessa forma, as demandas apresentadas, tanto em relação aos problemas advindos do contexto familiar quanto ao sofrimento e desconforto aparente, podem ser manejadas com o uso da TCI. Ao passo que, no momento que essa tecnologia respeita e valoriza as inquietações humanas, permite o cuidado terapêutico e a superação do sofrimento.(19) Portanto, acredita-se que a TCI, quando incorporada à rotina dos serviços que prestam atendimento aos usuários de SPA, semelhantes aos ambientes terapêuticos do presente estudo, podem permitir aos participantes momentos de reflexão, que podem ajudá-los a repensar novos projetos de vida e o futuro,(9,20) trabalhando os conflitos inerentes à dependência química e os que surgem no processo de reabilitação.(21)
É possível afirmar que participar das rodas de TCI proporcionou aos usuários momentos de apoio em grupo. A partir desses momentos, é possível destacar algumas estratégias sugeridas para o enfrentamento da dependência química, como manter boa autoestima, manejar sentimentos negativos e a importância de manter e obter vínculos sociais. Essas estratégias são consideradas neste estudo como meio para facilitar a adoção de comportamentos mais saudáveis, que proporcionem conforto e ao mesmo tempo, promovam a adesão ao tratamento.
Estratégias de enfrentamento ao uso de substâncias psicoativas, semelhante as apresentadas no presente estudo, foram relatadas em dois estudos que utilizaram a terapia comunitária como intervenção. O primeiro, realizado em Barra do Garças-MT (BR) com usuários de drogas, relatou que as principais estratégias estavam relacionadas à confiança, ao resgate de vínculos, fé, esperança, superação, empoderamento e autoconhecimento.(9) O segundo, realizado com usuários de um CAPS III em João Pessoa-PB (BR), apontou a busca por apoio familiar, a construção de novos laços de amizade, o tempo dedicado às tarefas domésticas/trabalho, entre as principais estratégias de enfrentamento ao sofrimento mental.(22)
Neste estudo, uma das estratégias mencionadas foi a autoestima, que está associada à presença de um humor positivo e uma boa percepção da eficácia em relação a áreas importantes para a pessoa, pelo contrário, a perda da autoestima torna-se um fator prejudicial a usuários de SPA, pois contribui negativamente para o tratamento, através de sentimento de impotência e incapacidade, pois acredita que não há motivos para se recuperar da dependência, além de ser um fator de risco para iniciar o consumo.(23)
A autoestima também foi mencionada como uma estratégias de enfrentamento revelada por mulheres nas rodas de TCI no Rio Grande do Norte (BR), assim como a resiliência, o empoderamento, a autonomia e o fortalecimento dos vínculos familiares, sociais, comunitários e espirituais.(24)
Ter e manter um bom relacionamento social foi uma das estratégias citadas neste estudo, representada pela necessidade de contato, confiança, perdão, apoio e afeto. Melhorar esse relacionamento social torna-se referência importante na vida das pessoas, especialmente na vida desses usuários, pois proporciona tranquilidade, alegria, suporte social e promoção do equilíbrio pessoal.(25)
Esse apoio social foi mencionado devido à importância do vínculo de amizade, que aponta para a importância de resgatar o apoio dos amigos e construir novas amizades, que incluem colegas de tratamento. Como descrito acima, um estudo observou a importância da inter-relação entre os membros de tratamento, proporcionando amizade, ajuda mútua, para estabelecer um relacionamento terapêutico.(9)
Ambos os aspectos intrapessoais e interpessoais combinam-se na formação de um conjunto de desejos e expectativas que parecem estar disponíveis em níveis mais ou menos abstratos, que incluem livrar-se das drogas, o desejo de mudar a vida em busca de ter um futuro melhor, a conquista de um emprego renumerado e o resgate de suas perdas (materiais e familiares).
Estudo realizado em Batatais (SP)(1) verificou-se que os desejos visavam recuperar as perdas causadas pelas drogas, aumentar as expectativas para o futuro, como se livrar do vício, aproximando de seus familiares, arrumando um emprego renumerado e retomando os estudos. O que se percebe é que, ao restabelecer sua condição biopsicossocial, o usuário torna-se protagonista de seu tratamento e refletir sobre sua relação com as SPA e os impactos negativos causados por esse consumo.(1,9)
Percebeu-se nos registros que a religiosidade foi um meio de enfrentamento, expressado principalmente pelo apoio em Deus, pela fé, conforto, orações e participação em cultos religiosos. Sobre isso, um estudo evidenciou que ter religião e/ou espiritualidade pode favorecer mais facilmente os sentimentos de perdão, que são uma das estratégias de enfrentamento mais citadas por participantes de rodas de TCI.(25)
A capacidade de um indivíduo perdoar pode favorecer a redução do sofrimento mental e físico, pois, ao perdoar, é preciso aceitar situações conflitantes e ser paciente enquanto aguarda soluções, o que proporciona paz interior. A religiosidade/espiritualidade pode suscitar sentimentos positivos, ajudando a melhorar a qualidade de vida das pessoas.(25,26)
Outro meio de enfrentamento verificado nesse estudo foi a maneira como os participantes valorizavam e imaginavam o tratamento recebido, o que foi possível graças as atividades recebidas, como as rodas de TCI. Essas atividades foram identificadas em outros estudos como instrumentos importantes para a reabilitação e reconstrução da cidadania e autonomia.(1,9,27)
No presente estudo, acredita-se que a TCI ajudou os usuários a buscar ou pelo menos refletir sobre estratégias de enfrentamento da sua condição de vida e saúde, o que também foi verificado entre usuários de SPA que frequentavam rodas de TCI em Mato Grosso(9) e entre usuário que fazia uso nocivo de álcool no Ceará.(28)
As limitações deste estudo são atribuídas ao uso de um único tipo de fonte de dados e registros sintéticos que podem não ter apresentado todas as demandas e estratégias dos participantes, o que impede a generalização dos achados. Portanto, mais pesquisas devem ser feitas sobre a aplicabilidade dessa prática integrativa e complementar, estendendo-as para outros ambientes terapêuticos.
A investigação revelou que as principais demandas relatadas nas rodas de TCI estavam relacionadas ao contexto familiar, ao sofrimento e ao desconforto vivenciado pelo usuário, enquanto as estratégias para enfrentamento da dependência química, focavam em aspectos intrapessoais (autoestima e manejo de sentimentos negativos), aspectos interpessoais (vínculo com amigos e familiares), desejos e expectativas (mudança de vida) e reinserção social, que inclui religiosidade e tratamento recebido.
Os registros permitiram inferir os efeitos benéficos da participação nas rodas de TCI, particularmente no acolhimento das demandas dos participantes, despertando os mecanismos para enfrentar as adversidades, dando-lhes a oportunidade de redimensionar seus conflitos, sofrimentos e emoções.
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